Artigo publicado pela revista "Cadernos Brasileiros de Saúde Mental". UFSC 2014
O Santo Daime é uma bebida obtida através da combinação de duas plantas Banisteriopsis caapi (mariri/jagube) e Psychotria viridis (chacrona/rainha) através de decocção, além de ser comprovadamente inofensiva a saúde humana, traz diversos benefícios a quem faz seu uso, e devido a isso o presente estudo objetivou realizar uma revisão bibliográfica descrevendo os benefícios a saúde humana ocasionado pela ingestão da mesma, sendo apontada como um instrumento promissor para o tratamento de diversas enfermidades e dependências químicas, sendo constatado que a mesma traz benefícios para seus usuários no contexto social e em sua ação neuropsicológica, fisioimunológica, microbiológica e parasitária.
A avaliação psiquiátrica conduzida pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Centro de Referência da Organização Mundial da Saúde, não encontrou entre os usuários pesquisados nenhum caso de dependência, abuso ou perda social pelo uso do Santo Daime, aspectos presentes em usuários de drogas proscritas pela legislação.
As conclusões comparativas são surpreendentes. A primeira delas, confirmando a afirmação de que a bebida é inócua do ponto de vista toxicológico: não se constatou “nenhuma diferença significante no sistema neurosensorial, circulatório, renal, respiratório, digestivo, endócrino entre os grupos experimentadores e de controle”.
Nos testes psiquiátricos, foram aplicados os recomendados pela ortodoxia científica, o CIDI (Composite International Diagnostic Interview), com os critérios do CID 10 e DSM IIIR, e o TPQ (Tridimensional Personality Questionnaire). Constatou-se que os usuários de Santo Daime, comparativamente aos não usuários (grupo de controle) mostraram-se mais “reflexivos, resistentes, leais, estóicos, calmos, frugais, ordeiros e persistentes”. E ainda: mais “confiantes, otimistas, despreocupados, desinibidos, dispostos e enérgicos”. Exibiram também “alegria, hipertimia, determinação e confiança elevada em si mesmo”. Os examinados apresentaram desempenho significativamente melhor que os do grupo de controle quanto à capacidade de lembrar as palavras na quinta tentativa. Foram melhores também em “número de palavras lembradas, recordação tardia e recordação de palavras após interferência”.
Embora o protocolo de estudo não permitia separar os benéficos atinentes ao contexto religioso dos efeitos da bebida em si, esta pesquisa confirma a impressão geral, decorrente da sua utilização milenar, da inocuidade do Santo Daime. De fato não se conhece caso de lesões e doenças provocadas pelo seu uso “in natura”, sem adulterações ou misturas.
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